Infelizmente, muitos ainda fazem o uso do termo “sustentável” de forma exagerada, apenas como um argumento de marketing, prática conhecida como “greenwashing”. Isso não deve ser aceito e o mercado consumidor está cada vez mais exigente em relação a isso. Entretanto, existem inúmeras outras possibilidades para aplicar a sustentabilidade.
Uma delas é na construção civil: descarte irregular de resíduos, consumo exagerado de recursos naturais e modificação da paisagem são alguns dos impactos ambientais causados diariamente nesse tipo de empreendimento. Segundo dados do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, o setor consome 75% dos recursos naturais e 20% da água nas cidades, e gera 80 milhões de toneladas/ano de resíduos. O desmatamento é exemplo dos vários problemas que surgem como reflexo das construções.
Entretanto este cenário pode ser revertido por meio de projetos e métodos construtivos que levam em consideração a chamada arquitetura sustentável. Um conceito relacionado a uma série de práticas de desenvolvimento de projetos arquitetônicos que consideram todas as etapas do processo construtivo, desde a escolha dos materiais até como o projeto será utilizado após a finalização, sempre otimizando os recursos naturais objetivando minimizar o impacto ambiental. Mais do que função, conforto e estética, é preciso pensar nos estágios iniciais e ter a habilidade de olhar para o uso dos recursos, para a utilização de materiais e aplicar estratégias passivas e ativas capazes de promover o conforto ambiental e a eficiência energética das edificações.
A ideia surgiu nos anos 70 e levava em conta diversos aspectos relacionados ao clima do local de cada projeto, o aproveitamento dos recursos naturais disponíveis e do ecossistema e biodiversidade. A partir daí, foi se aprimorando para que chegasse ao que temos hoje: uma sustentabilidade na arquitetura que considera as construções como organismos vivos que afetam diretamente o meio onde estão inseridos, tendo como base não somente os impactos ambientais, mas também sociais e econômicos.
Existem diversas maneiras de projetar com foco na sustentabilidade. Os materiais empregados são definidos no baixo impacto ao meio ambiente, sendo preferíveis materiais de origem natural, adquiridos por fornecedores que possuam certificados de procedência e utilizados de forma consciente. Quando possível, os materiais devem ser adquiridos por fornecedores locais para evitar longas distâncias de transporte, reduzindo a emissão de CO2. Os insumos só devem ser utilizados quando estritamente necessários, pensando no reaproveitamento e reciclagem da matéria-prima. Essas são as chamadas estratégias ativas. Já as estratégias passivas compreendem o uso dos materiais, energia, recursos, planejamento do espaço, estudo do clima e outros fatores. Essa também é uma prática sustentável pois oferece um melhor aproveitamento da radiação solar, da ventilação e iluminação natural, diminuindo o consumo de água e energia.
Outras estratégias consideradas sustentáveis são: a otimização do uso da água, utilização de recursos para reuso de água, a instalação de sensores em torneiras, aquecedores solares para o aquecimento de água e geração de energia elétrica, o que reduz o custo de manutenção e operação.
O paisagismo também deve ser pensado observando a necessidade de irrigação das espécies. Assim, a utilização de plantas nativas contribui com a economia de água. Vale lembrar ainda que o plantio de determinadas árvores favorece o sombreamento e proteção contra a radiação solar, diminuindo a sensação térmica do local, além de tornar o ar do ambiente mais puro. O telhado verde é outra possibilidade de utilizar vegetação para construir de forma mais sustentável. Quando comparado com outros sistemas de cobertura, proporciona maior isolamento térmico, reduzindo os ganhos de calor produzidos pela radiação solar, diminui as cargas térmicas que entram através da cobertura melhorando o conforto térmico e eficiência energética das construções.
Resumidamente, podemos destacar como vantagens da arquitetura sustentável:
• Reduz o consumo de energia;
• Diminui resíduos;
• Protege o ecossistema;
• Melhora a qualidade do ar e da água;
• Reduz custos na operação e manutenção da construção a longo prazo;
• Melhora o conforto, bem-estar e produtividade dos ocupantes;
• Proporciona melhora na saúde, na qualidade de vida e conforto dos habitantes.
Da mesma maneira que é de extrema importância considerar as construções como organismos vivos, é necessário também ressignificar e revitalizar o espaço urbano para tornar as cidades mais sustentáveis nos aspectos sociais, ambientais e econômicos. Reciclar a cidade significa planejar espaços de maneiras diferentes e significativas. Assim, é possível implantar um uso combinado da região, oferecendo diversidade no comércio, moradia, lazer, trabalho e educação, de maneira coletiva e contextualizada, viabilizando o reaproveitamento urbano, ambiental, social e econômico. Um exemplo seria a revitalização dos parques, criados para equilibrar a presença de áreas verdes e áreas construídas nas cidades.
Um projeto assertivo em termos de funcionalidade e fatores ambientais é capaz de afetar positivamente a saúde e qualidade de vida dos ocupantes. Projetar de maneira eficiente e inteligente é utilizar soluções integradas e tecnologias ecologicamente corretas. É unir a arquitetura ao meio ambiente e promover a conservação da vida.
Comment (1)
E uma arguitetura espirituosa