Conectando a biodiversidade: como os corredores ecológicos ajudam a proteger o ecossistema

A crescente interferência das atividades humanas sobre os recursos naturais do planeta decorrentes da urbanização e atividades agropecuárias, por exemplo, tem causado uma série de prejuízos, sejam eles sociais, ambientais e paisagísticos. Isso se reflete claramente no espaço geográfico e na paisagem causando desequilíbrio nas relações homem-natureza, determinando e sensibilizando a qualidade ambiental. Essa relação conflituosa entre homem e meio ambiente ocasiona alterações nos ecossistemas e na sua capacidade em contribuir com bens e serviços para a sociedade.

O patrimônio natural brasileiro é reconhecidamente o mais significativo do planeta. Essa riqueza natural é expressa tanto pela sua extensão continental, quanto pela diversidade das espécies biológicas e seu patrimônio genético, bem como pela variedade ecossistêmica dos biomas existentes. Para garantir a manutenção desse patrimônio natural e amenizar esse descontrole no uso dos recursos naturais, foram criadas áreas para a conservação da biodiversidade: as Unidades de Conservação.

Com as Unidades de Conservação (UC´s), a representatividade dos ambientes naturais, bem como a preservação de determinadas áreas serão garantidas. Entretanto, isolar populações animais ou vegetais pode contribuir para a extinção de espécies. Além disso, muitas vezes também são observados dentro das unidades de conservação ambientes impróprios como estradas, lavouras ou núcleos urbanos. Esses cenários oferecem riscos às espécies que se deslocam para fora dos limites das UC, podendo causar atropelamentos, caça por humanos ou predação por outros animais.

Assim, tornou-se necessário criar estratégias que pudessem mudar fundamentalmente o papel ecológico das áreas protegidas, como aumentar o tamanho e as chances de sobrevivência de populações de diferentes espécies, a recolonização do lugar com populações de espécies localmente reduzidas e, ainda, reduzir a pressão sobre o entorno das áreas protegidas. Assim foram criados os corredores ecológicos: “estradas”, que garantem o deslocamento das espécies, a dispersão de sementes e o aumento da cobertura vegetal, necessários para a manutenção da vida nestes locais. Dessa forma evita-se que estes riscos estejam presentes e permite uma ligação segura entre as UC e as áreas do entorno. Os corredores ecológicos são áreas que unem os fragmentos florestais ou unidades de conservação separadas por interferência humana, garantindo que elas não se transformem em “ilhas”.

Além da estratégia da manutenção da vida e da biodiversidade, os corredores ecológicos ajudam a amenizar os impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente, unindo de maneira sustentável, a ocupação humana e a manutenção das funções ecológicas no mesmo território.

Para a criação de um corredor ecológico é necessário reunir informações como estudos sobre o deslocamento espacial de uma espécie, a área necessária para o suprimento de suas necessidades vitais e reprodutivas e a distribuição de suas populações. Com estes dados em mãos, são estabelecidas as regras de utilização destas áreas, buscando sempre possibilitar a manutenção do fluxo de espécies entre fragmentos naturais e, com isso, a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade. A criação de um corredor ecológico é regulamentada por leis nacionais, como a Lei 9985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, e seu Decreto 4340/2002. As regras de utilização e ocupação dos corredores e seu planejamento são sempre determinadas no plano de manejo da Unidade de Conservação local.

Nesses planejamentos e implantações, seja ele de uma unidade de conservação ou de um corredor ecológico dentro dela, o envolvimento das comunidades locais é essencial. É uma oportunidade para discutir a conservação e o desenvolvimento das paisagens sustentáveis, além de ser uma forma de garantir a integridade das populações animais e vegetais. É uma maneira descentralizada e participativa de fazer a conservação da biodiversidade e integrar oportunidades e processos culturais e socioeconômicos à gestão ambiental.

Juliana Mendes Vasconcelos / Bióloga / Ma. em Ciências e Tecnologias para o Desenvolvimento Sustentável / Colaboradora da Promutuca / www.promutuca.com.br • adm.promutuca@gmail.com

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