Na região limítrofe entre Nova Lima e Belo Horizonte, moradores, trabalhadores e empresários relatam que o simples fato de se locomover para o trabalho, à escola ou a um compromisso social virou questão de saúde pública.
A mobilidade é hoje o grande desafio das grandes cidades e está diretamente ligada ao seu desenvolvimento econômico e social. A maneira como as pessoas se locomovem pelos espaços urbanos mostra não apenas o processo de urbanização das cidades, mas também o quanto isso influencia na qualidade de vida da população.
Na região limítrofe entre Nova Lima e Belo Horizonte, se locomover para o trabalho, à escola ou a um compromisso social virou questão de saúde pública. Ao utilizarem as poucas alternativas de ligação entre as cidades, pessoas estão ficando presas em filas de engarrafamento na única saída para BH, a MG-030. Com isso, estão mais estressadas, improducentes, perdendo a qualidade de vida e até mesmo mudando a própria história.
Veja os depoimentos de quem vivencia o dia a dia na região e clama por uma solução para o trânsito caótico
O ser humano faz parte do meio ambiente
“Sei que um dos entraves para solução dos problemas da região tem a ver com a sua localização, no limite entre os municípios de BH e Nova Lima. E há problemas localizados em um dos municípios que impactam o outro. As decisões técnicas e políticas precisam ultrapassar essa “bola dividida” para pensar na população desta parte da Região Metropolitana de BH como um todo. Vejo aí também um papel não só das duas prefeituras, de Belo Horizonte e de Nova Lima, mas também a participação do Governo do Estado como mediador e apoiador.
Por fim, numa época em que tanto se fala em preservação do Meio Ambiente, minha mensagem é no sentido de que nunca esqueçamos de que o ser humano faz parte dele. De que vale preservar a natureza, criando parques, por exemplo, se o ser humano estiver ali ao lado, num congestionamento, respirando monóxido de carbono, se irritando, perdendo tempo de vida?”
ROSANE GUEDES, engenheira e moradora do Vila da Serra
Emergências são tempo-dependentes
“Todas as doenças atendidas na emergência são tempo-dependentes. Algumas, com elevado potencial de morte e risco de sequelas, devem ser tratadas em fluxo específico, desencadeando o que chamamos de onda vermelha: vários setores atuando simultaneamente em processos específicos para que o paciente seja atendido de forma eficiente, no menor tempo possível como, por exemplo, vítimas de trauma, de infarto, de acidente vascular cerebral e de infecções e lesões graves. No AVC tempo é cérebro. No infarto, tempo é músculo.” Relata a médica ao referir sobre o tempo que se perde no trânsito até que o paciente seja atendido em um dos hospitais da região.
MARIA APARECIDA BRAGA, médica Emergencista e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Emergência.
“Agora sinto medo do trânsito”
Duas horas e meia, grávida de 38 semanas, um filho aguardando na escola, presa na MG-030. Em pânico, a moradora Priscila Sírio tentava avistar um fim na fila de veículos que parecia se retroalimentar a cada quilômetro. O desespero de Priscilla Sírio alterou sua pressão, levou-a a passar mal e por antecipar em uma semana o nascimento de seu filho, por meio de uma intervenção cirúrgica. “Comecei a passar muito mal. A tensão foi aumentando quando pensei que, caso algo acontecesse e eu começasse a ter o bebê, não teria como sair dali”, relembra Priscila Sírio que, após o acontecido desenvolveu um transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). “Agora sinto medo do trânsito, especialmente quando passo no mesmo trajeto”, desabafou.
PRISCILLA SÍRIO, moradora na região
“É um transtorno e ninguém quer trabalhar aqui”
“A essa hora está tudo parado, não anda. É um transtorno e ninguém quer trabalhar aqui por causa do trânsito. Moro em Betim e às vezes gasto até 4 horas para chegar em casa. É necessário ter uma providência do poder público para ajudar a gente.”
MARIA APARECIDA COSTA, trabalhadora na região
“Hoje, se eu passar mal aqui, não consigo chegar ao hospital”
“Estamos inibidos de ir e vir. Tenho deixado de contratar funcionários porque estes não querem trabalhar em Nova Lima mais. Um simples percurso de 3 km vira um estresse todos os dias. Hoje, se eu passar mal aqui, não consigo chegar ao hospital de carro. Um colega nosso infartou aqui e foi carregado no colo para atendimento porque o carro não chegava até lá. Todo dia é isso, um estresse para levar criança na escola, para ir até o escritório. A gente precisa de obras de infraestrutura, túnel, ponte, viadutos. A gente quer que a cidade cresça, mas com qualidade”.
FÁBIO BRAGA, empresário na região.
“Só consegue chegar em casa depois de 2 horas”
“Se formos olhar o trânsito, a gente ia preferir trabalhar próximo de casa para não pegar esse engarrafamento aqui. Às vezes, você sai cedo do trabalho, mas só consegue chegar em casa depois de 2 horas, porque fica esperando o ônibus. É muito complicado.”
RENATA DIAS, trabalhadora na região
“As pessoas não querem vir aqui por causa desse trânsito caótico”
“A gente tem dificuldades para encontrar pessoas para trabalhar devido à dificuldade de locomoção. As pessoas não querem vir aqui por causa desse trânsito caótico. Até você chegar ao BH Shopping, gasta em média 40 minutos, estamos falando de uma distância de 500 metros. Essa linha férrea poderia criar uma opção e dar oportunidade de trabalho para várias outras pessoas e hospitais que poderiam ser beneficiados com isso.”
EWERTON RABELO, empresário na região
Comment (1)
A solução passa pelo modal ferroviário, mas, não se aborda essa possibilidade. Construir mais ponte e viadutos apenas vai ligar um engarrafamento a outro. Enfim, transporte coletivo rodoviário e ferroviário de carga e pessoas é a solução para reduzir o número de veículos transitando pela região.