Até poucas semanas atrás, nós víamos no meio de uma nuvem de fumaça, seja em pleno centro de Belo Horizonte ou em qualquer lugar do país. Devido à estiagem prolongada e severa, mal nos lembramos como eram as chuvas. Parecia que elas nunca mais chegariam.
Eis que vem novembro, trazendo consigo o céu escuro e as tempestades que nos fazem acreditar que nunca mais veremos o sol. As consequências começam a aparecer diariamente nas manchetes dos jornais:
“Chuva mata”
“Tempestade deixa desabrigados”
Da forma como se escreve, até parece que as chuvas é que são os grandes vilões, os culpados pelas grandes catástrofes. Todos os anos, sabemos que elas vêm – e tomara que venham mesmo! É certo que ultimamente o clima anda diferente. A cada ano, novos recordes são quebrados: a seca mais prolongada, as maiores temperaturas, o maior índice de precipitação por hora. Nem vou entrar na discussão de quem é o responsável pelas mudanças climáticas, pois esse já é o principal tema de debate de toda a comunidade científica, para não dizer da humanidade atualmente. Mas por mais intensas e inesperadas que sejam as chuvas, tendo a achar que seja muito melhor com elas do que sem.
As civilizações que convivem com as secas sabem como cada gota d’água é preciosa. Sem ela, a vida não é possível. Em função da necessidade, surgiram tecnologias para aproveitar ao máximo o essencial recurso.
Exemplos são o reuso das águas, desenvolvimento de múltiplas formas de adução e armazenamento, utilização de equipamentos de baixo consumo hídrico e maior eficiência nos sistemas de distribuição e irrigação. Embora as soluções existam, conviver com a falta de água não é trivial: exige adaptação e investimento.
Por outro lado, quando as águas vêm em excesso, ocorrem inundações, deslizamentos, queda de energia, acidentes, prejuízo em colheitas e patrimônios. As recentes imagens de Porto Alegre ainda estão em nossas mentes para não nos deixar esquecer. Claro que nenhum dos extremos é bom. Porém, o que nos falta é usar a mesma inteligência, criatividade e recursos para desenvolver e implantar soluções para lidarmos com o excedente e revertê-lo a nosso favor.
“Cidades-esponja”
Exemplos de iniciativas nesse sentido são as “cidades-esponja”, áreas urbanas projetadas para absorver, armazenar e reutilizar a água da chuva, recarregando os aquíferos e conduzindo o excesso para áreas alagáveis.
Outras iniciativas são as recargas gerenciadas de aquíferos, técnicas de captura de águas de chuva, rios, ou até mesmo de reuso para armazenamento em reservatórios superficiais ou subterrâneos e posterior utilização ou reposição nos cursos d’água, no período de seca.
Todas elas são Soluções Baseadas na Natureza (SbN), técnicas inspiradas nos processos naturais, buscando a cooperação entre os elementos ao invés de lutar contra eles. Analogamente ao que ocorre com as áreas secas, sabemos que tudo isso também exige muito investimento. Mas a história nos mostra: não há como ganhar da natureza. Assim, só nos resta aprendermos com ela e nos tornamos seus aliados.
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