A inclusão de crianças com Transtorno do Espectro Autista nas escolas

Nos chama atenção o crescimento do diagnóstico de TEA e, levando em consideração o início do ano letivo escolar, o JORNAL BELVEDERE procurou a Psicóloga e Psicanalista, Daniela Landim para falar sobre os desafios das escolas e dos pais frente a essa realidade. Daniela é Membro Efetivo e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise, Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia, Professora de Pós-graduação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da FUMEC.

JORNAL BELVEDERE -Como identificar crianças com TEA no ambiente escolar?
Daniela Landim – Identificar crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode ser um desafio, pois os sintomas podem variar de pessoa para pessoa e nem sempre são tão evidentes. No entanto, existem alguns sinais que podem indicar a necessidade de uma avaliação especializada.
De forma simplificada, são eles:
• Evitação ou nenhum contato visual com outras pessoas;
• Dificuldade para expressar e compreender ideias e sentimentos, de forma verbal e não verbal;
• Resistência ou irritação excessiva com mudanças na rotina ou no ambiente;
• Comportamentos repetitivos e estereotipados, como balançar o corpo, balançar as mãos – flapping, repetir palavras ou frases independentes do contexto;
• Interesse excessivo por objetos específicos ou partes deles e desinteresse por interação social;
• Sensibilidade aumentada ou diminuída a sons, luzes, cheiros e toques;
• Não responde ao próprio nome ao ser chamado;
• Preferir brincar sozinho e evitar o contato com outras crianças.
Esses sinais podem aparecer nos primeiros anos de vida da criança, mas nem sempre são percebidos pelos pais ou pelos profissionais de saúde e educação. Não cabe aos profissionais da escola fechar um diagnóstico. Porém, caso identifiquem esses sinais em uma criança, é importante chamar os pais para uma conversa, orientando-os e encaminhando a criança para uma avaliação especializada.

JB-Como é feito o diagnóstico de TEA?
Daniela Landim – O diagnóstico é feito por meio de uma avaliação clínica, que envolve a observação do comportamento da criança, entrevistas com os pais ou cuidadores e aplicação de instrumentos específicos, como testes ou escalas. Não há nenhum exame laboratorial ou de imagem que possa, exclusivamente, confirmar o diagnóstico de TEA.
A inclusão de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas escolas é um direito garantido por lei (Lei Berenice Piana 12.764/12) e um desafio para educadores, pais e profissionais que acompanham a criança.

JB – Quais desafios as escolas enfrentam?
Daniela Landim – Os desafios envolvem:
A falta de formação e capacitação dos profissionais da educação;
Dificuldades comportamentais da criança ou adolescente com TEA, como: recusa em fazer atividades ou seguir rotinas e regras, interesses restritos e estereotipados, inflexibilidade ou rigidez, e agressividade;
Dificuldades em sua comunicação, que podem afetar a compreensão da fala da criança com autismo, a expressão de suas necessidades e sentimentos, e a interação com colegas e professores;
Dificuldades pedagógicas dos alunos com TEA, que podem exigir adaptações curriculares, metodológicas e avaliativas;
Falta de recursos materiais e humanos nas escolas, que podem limitar o acesso e a permanência dos alunos com TEA na educação regular;
O preconceito e a falta de sensibilização dos demais alunos e pessoas da escola, que podem dificultar a acolhida e a interação com os alunos autistas, gerando situações de exclusão e discriminação, levando a um sofrimento ainda maior.

JB – Como incluir a criança no ambiente escolar?
Daniela Landim – Para que a inclusão ocorra de forma mais favorável possível, é preciso entender melhor o que é o TEA, suas características, potencialidades e dificuldades. Mas, principalmente, reconhecer que cada criança é única e singular, ou seja, apesar do diagnóstico, cada criança apresenta necessidades e interesses próprios, demandas individuais.
A fim de favorecer a inclusão de crianças com TEA nas escolas, professores e coordenadores podem conversar com os pais e profissionais de saúde que acompanham a criança, para conhecer melhor as necessidades e preferências do aluno, bem como os recursos e apoios que ele utiliza, a fim de que possam atuar de forma colaborativa e integrada no processo de inclusão escolar.
Conversar com o próprio aluno, respeitando seu ritmo e sua forma de comunicação, e envolvê-lo nas decisões sobre seu processo de aprendizagem é uma ferramenta importante nesse processo.
É importante preparar a equipe escolar, oferecendo formação e capacitação sobre o TEA, promovendo a colaboração entre os profissionais da educação, da saúde e da assistência social. A escola deve contar com o conhecimento e a experiência de profissionais competentes e sensíveis, que favoreçam a capacitação da equipe não apenas através do viés técnico.
Reuniões com os pais de crianças e adolescentes com TEA são sempre necessárias e importantes. Também é importante sensibilizar e orientar os demais estudantes e funcionários da escola sobre como acolher e interagir com os alunos autistas, favorecendo a convivência, valorizando a diversidade e o respeito mútuo.

JB – Qual o papel dos pais nesse processo?
Daniela Landim – Os pais podem participar ativamente do processo de adaptação da criança à escola; conhecer as características, necessidades e interesses do seu filho, e compartilhar essas informações com a equipe escolar; estabelecer uma comunicação verdadeira e aberta com os professores, buscando acompanhar o desempenho, o comportamento e o bem-estar da criança na escola, e oferecendo feedback e sugestões; apoiar as práticas pedagógicas inclusivas que a escola adota, e procurar aplicá-las também em casa, de forma integrada.

Share this post

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *