Como imaginar a cidade daqui a 20 anos? Arquitetos, Urbanistas e Especialistas que fazem parte do projeto de desenvolvimento da CSul Lagoa dos Ingleses refletem sobre como Nova Lima pode ser um exemplo de desenvolvimento urbano.
Planejar cidades combinando investimentos com foco nas pessoas, natureza, relações sociais e tecnologia para impulsionar o crescimento econômico sustentável é um grande desafio. Há alguns anos, esse conceito, chamado “novo urbanismo” vem sendo discutido no Brasil. A cidade de Nova Lima está, agora, no centro deste assunto, por alguns fatores: primeiro, porque de acordo com o Censo 2022, a população da cidade chegou a cerca de 112 mil pessoas, o que representa um aumento de 38% em comparação com o Censo de 2010, representando um crescimento muito acima da média das demais cidades brasileiras; em segundo lugar, porque existem grandes exemplos de planos de desenvolvimentos sustentáveis e dinâmicos no município, como o projeto CSul Lagoa dos Ingleses.
Inovador no país e na América Latina, o projeto CSul prevê desde sua criação, em 2014, o desenvolvimento ordenado e planejado da região da Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima, a partir da criação de uma verdadeira “cidade verde”, com moradia, trabalho, serviços e lazer, atrelados à mobilidade e sustentabilidade. “No Projeto CSul Lagoa dos Ingleses, o compromisso com as pessoas e a sustentabilidade é um pilar indissociável. Nosso masterplan, que é o planejamento de longo prazo para toda região, reúne boas práticas adotadas por smart cities e conceitos de novo urbanismo no mundo, com o objetivo de criar aqui uma centralidade bem heterogênea e sustentável, que agregue qualidade de vida à população e atraia empresas alinhadas a este mesmo propósito. Exemplos disso são algumas das empresas que já se instalaram no local, com foco na biotecnologia como por exemplo a BiotechTown, Biomm, CMOS DRAKE, e Visontech, entre outras, que já integram a região do projeto”, afirma Maury Bastos, presidente do Grupo CSul.
A partir do modelo urbanístico das smart cities e do plano de desenvolvimento do projeto CSul Lagoa dos Ingleses, o Jornal Belvedere propôs a especialistas em construção e desenvolvimento urbano que atuam em Nova Lima imaginarem a cidade daqui a 20 anos. Adam Kurdahl, sócio-fundador do renomado escritório Norueguês de arquitetura SPOL Architects; Guilherme Santos, diretor-presidente do Grupo EPO; Paulo Kawahara, sócio-fundador do escritório que é a maior referência em urbanismo no Brasil, a Jaime Lerner Arquitetos Associados; Juliana Castro, da JA8 Arquitetura Viva e Fred Lanna, fundador do Projeto Trilhas, refletiram sobre a Nova Lima do futuro.
Uma cidade mais humana
Para Guilherme Santos, do Grupo EPO, a cidade de Nova Lima pode ser, em 20 anos, um modelo de urbanismo centrado no ser humano. Mas é preciso que as cidades sejam mais sustentáveis e tecnológicas: “primeiramente, precisamos evoluir as nossas pautas. Não apenas sobre como os empreendimentos além de recursos como energia renovável, uso eficiente de água e redução da pegada de carbono, mas propor discussões sobre como estes edifícios residenciais, corporativos, comerciais ou loteamentos serão versáteis em relação ao uso, como irão gerar valor para a sociedade como um todo e como se relacionarão com a comunidade local.”
Guilherme afirma que hoje temos alguns casos emblemáticos em Nova Lima que ilustram essa nova forma de pensar cidades: “o Vale do Sereno, que está passando por um processo de revitalização pautado pelo ‘novo urbanismo’, e o Navegantes, na Lagoa dos Ingleses, projeto de uso misto que levou para a região um comércio fundamental para a comodidade do dia-a-dia dos moradores dos condomínios são grandes exemplos de regiões sustentáveis e tecnológicas. Pensar o futuro de forma sistêmica e integrada é o caminho para trazer efetivamente valor para todos os agentes da cidade e transformá-la em um lugar melhor para se viver”.
Integração e autossuficiência
Sócio-fundador do escritório de arquitetura Jaime Lerner, referência nacional e internacional da área, Paulo Kawahara acredita que a Nova Lima que desejamos para o futuro é aquela que concilia “vida e trabalho”, ou seja, onde as funções urbanas de trabalhar, morar, estudar, divertir sejam integradas. “O futuro de nossas cidades se traduz em comunidades mais compactas, autossuficientes e, consequentemente, com economia de energia e redução de emissões – a cidade sustentável. ‘Uma cidade só é humana se for para todos’ dizia o famoso arquiteto e urbanista, Jaime Lerner. Portanto, construir cidades com primazia ao verde, ao pedestre, aos espaços públicos e comunitários, com mobilidade coletiva acessível e eficiente, com coexistência de rendas, etnias e culturas, deveria ser o lema de todo gestor e planejador urbano. Uma cidade como cenário de encontro para as pessoas, multicultural, solidária e inovadora”.
Para Kawahara, todos estes conceitos e objetivos estão presentes na CSul, “com localização estratégica na macro-esquina turística entre Ouro Preto e Inhotim; com patrimônio cênico invejável como a Lagoa dos Ingleses e a Serra da Moeda; e ativos como a Fundação Dom Cabral, a Biotechtown e inúmeras empresas de tecnologia, que consolidam a região como a grande centralidade no vetor sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte, em prol de uma metrópole equilibrada e dinâmica”.
Juliana Castro, da JA8 Arquitetura Viva, revela que a concepção do bairro planejado, feita a partir de um masterplan urbanístico com detalhamento das ruas, espaços destinados aos imóveis, âncoras, espaços públicos de lazer, entre outros, deve estar comprometido com a produção do espaço urbano de qualidade, compreendendo que seu maior produto não são as unidades privativas e sim o espaço coletivo, o ambiente urbano e a comunidade que se desenvolverá a partir dele.
De acordo com a arquiteta, o conjunto formado pelos empreendimentos da CSul na Lagoa dos Ingleses segue essa concepção urbanística, porque “cria o ambiente para vitalidade urbana, para a formação de uma comunidade pulsante que tem como estrutura física um lugar capaz de prover qualidade de vida. A fusão entre os ativos paisagísticos locais como as montanhas e a lagoa com a inserção das áreas destinadas à habitação comerciais, lazer e serviços importantes como colégio, fundação e espaços públicos consolida o endereço criado como um lugar único”.
O projeto realizado pela JA8 Arquitetura na área da Lagoa dos Ingleses, segue as diretrizes desse novo modelo de urbanismo integrado e sustentável. “Nosso trabalho vem para agregar a ambiência acolhedora e incrementar a oferta de atividades e possibilidades de vida ao ar livre no bairro. Queremos contribuir com a qualidade da vida cotidiana das pessoas que escolheram viver na Lagoa do Ingleses, criando espaços que são propícios ao encontro e uma vida cheia de oportunidades. Lugares que cultivam a saúde, a empatia entre as pessoas e delas com a natureza, assim como o estabelecimento da comunidade como base de apoio para cada família que escolha este lugar para ser seu”, completa Luciana.
Cidade de 15 minutos
O conceito de “Cidades de 15 minutos”, presente no Relatório Mundial das Cidades, documento bianual lançado pela UN-Habitat (programa de habitação da ONU), nasceu na COP21, o encontro das Nações Unidas que deu origens aos acordos climáticos de Paris, em 2015. É um ousado projeto urbano que propõe uma transformação nas grandes cidades, cujo propósito é o possível atendimento das necessidades básicas diárias de toda a população em uma distância de 15 minutos a pé ou de bicicleta, em uma região que integra cidade e áreas verdes.
De acordo Adam Kurdahl, sócio-fundador da SPOL Architects, da Noruega, a cidade do futuro se delineia como um espaço onde a natureza e a convivência humana coexistem em harmonia: “Imagine, a cada edifício, a presença de mil árvores, criando um ambiente de exuberância verde? O paradigma do amanhã traz à tona uma cidade concebida como um ecossistema integrado à natureza, uma rede orgânica em vez de barreiras rígidas. Uma urbe que proporciona tanto moradia quanto uma comunhão genuína com o ambiente natural, oferecendo programas culturais e espaços públicos propícios a interações cívicas”.
Segundo Adam, urge no país a necessidade de uma reconfiguração urbana pautada na humanização, com cidades que transcendam o mero concreto e se integrem com a natureza. “As cidades do amanhã não serão apenas aglomerados urbanos, mas sim ecossistemas complexos que refletem as necessidades e aspirações das pessoas. Um dos paradigmas mais promissores é a criação de cidades caminháveis, onde todos os aspectos da vida estejam a uma distância acessível. É aí que a concepção da ‘cidade dos 15 minutos’ se materializa, um conceito em que as necessidades cotidianas se encontram a um alcance de um mero quarto de hora, abolindo a dependência de automóveis”.
“A conexão com a natureza não é mais vista como um luxo, mas sim como uma riqueza a ser preservada e integrada à vida urbana. O exemplo do masterplan da Lagoa dos Ingleses nos apresenta uma oportunidade única. Aqui, a visão de criar uma cidade agradável para seus habitantes, em sintonia com a natureza e distante do ritmo frenético dos centros urbanos, é tangível. O projeto almeja um equilíbrio entre qualidade de vida e conveniência, unindo comércio, lazer, serviços e trabalho integrada a uma paisagem serena e inspiradora”, completa.
Áreas verdes como espaços de lazer
Fred Lanna, fundador do Projeto Trilhas, que inspira esportes na natureza, acredita que Nova Lima, daqui a 20 anos, será uma cidade cada vez mais verde e pautada em preservar seu rico patrimônio natural, unindo desenvolvimento urbano planejado à qualidade de vida em ambientes próximos às áreas verdes, com lazer e esportes nesses espaços.
Lanna acredita que projetos de desenvolvimentos sustentáveis que focam na preservação e manutenção de espaços verdes, como a CSul Lagoa dos Ingleses, correspondem ao futuro que ele espera para Nova Lima: “Temos, na cidade, 380 km de trilhas tombadas pelo decreto municipal 6773, que determinou a preservação, a organização e o fomento de trilhas destinadas à prática de caminhadas e de ciclismo mountain biking. A medida permitiu à cidade que preservasse seu patrimônio ecológico. Hoje, a CSul tem cerca de 40 km dessas trilhas em sua área e não só respeita os espaços, como os preserva, reestrutura para a prática de esportes e trata como um patrimônio da cidade”.
“Portanto, unir o desenvolvimento do município com cidades planejadas, priorizando qualidade de vida em bairros que integram grandes áreas verdes, mobilidade urbana, trilhas e natureza, como a Lagoa dos Ingleses, são o futuro. E, claro, sempre pautados no conceito de sustentabilidade. Acredito em uma Nova Lima planejada e verde para os próximos 20 anos”, finaliza.
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