De um lado, inúmeras organizações da sociedade civil que acrescem conhecimento e ações efetivas de proteção ambiental, de outro, governos e segmentos econômicos se esforçam para anular conquistas que foram transformadas em legislação. Do poderoso “grupo de pressão” do agronegócio à indiferença da maioria dos cidadãos, o patrimônio natural vai sendo gradativamente perdido em nome do progresso e do lucro.
O Brasil não é um caso isolado dessa “insustabilidade”. Ele é apenas mais um que se insere numa crescente tendência mundial. Pesquisas em todo o planeta analisam os retrocessos nas políticas de conservação ambiental, que cada vez mais se intensificam nas últimas décadas.
No Brasil que abriga a maior biodiversidade do mundo e a maior floresta tropical do planeta, acumulam-se também incalculáveis denúncias de destruição e atividades ilegais, já sendo possível prever desastres ambientais cada vez mais graves como a perda das reservas florestais e da biodiversidade, colocando em risco o próprio agronegócio, principal atividade econômica do País.
Mas, e eu com isso? Boa pergunta. Se assistirmos de braços cruzados a estupidez e ganância humanas acabarem com a natureza, pagaremos o mesmo preço que pagaram as sociedades que não respeitaram o seu meio ambiente e acabaram extintas.
É desanimador dizer mais uma vez que cuidar do meio ambiente é coisa séria. Já é clichê estamos cansados de saber e provar, mas mesmo assim, seguimos com indiferença e desprezo aos recursos por parte de muitos.
Cuidar do meio ambiente é garantir a vida do homem e dos demais seres vivos na Terra, e isso já foi evidenciado pela ciência não em um, dez ou cem pesquisas e artigos publicados nas mais renomadas revistas especializadas, como Nature e Science. São milhares de trabalhos que comprovam essa importância. O mais vigoroso, que reúne informações científicas de qualidade e fez um detalhado diagnóstico dos custos do aquecimento global
para o planeta, é o relatório do “Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas”, um grupo de estudos da ONU composto por cientistas de grande conceito. Eles fizeram repetidos alertas sobre os riscos de não se limitar a 1,5ºC o aumento da temperatura do planeta Terra até 2050, tendo como base os níveis pré-industriais.
É verdade que, ao longo da história de 4,5 bilhões de anos, a Terra passou por ciclos de aquecimento e resfriamento. Porém, esse era um fenômeno natural de se acontecer e que levava milhões de anos para ocorrer. Em contraste, desde o início da industrialização, no século XVIII, o planeta esquenta em níveis recordes. Do século XIX para cá, houve crescimento de 1ºC na temperatura média do planeta, o suficiente para ameaçar a vida nos países-ilhas. Países esses que estão constantemente sujeitos a alagamentos. Além disso, acelerou-se o processo de desertificação do Cerrado e das florestas tropicais e alterou-se o pH dos oceanos, provocando a morte de espécies de peixes fundamentais para a alimentação humana.
Por sua vez, o desmatamento descomedido também contribuiu muito para o aquecimento global. Ao mesmo tempo em que lançam oxigênio para a atmosfera, as árvores têm um papel importantíssimo de, por meio da fotossíntese, estocar carbono no subsolo.
Derrubar florestas significa permitir que todo esse CO2 armazenado seja lançado na atmosfera. Quanto a isso, não se tem o que discutir: é uma fórmula matemática. Renegar as mudanças climáticas e os efeitos do desmatamento equivale a duvidar de Charles Darwin, o pai da Biologia e da Ciência.
Nos últimos anos, o mundo passou por eventos extremos, com ondas de calor e enchentes terríveis, conforme previa a ciência. Outro ponto importante: meio ambiente e economia estão cada vez mais entrelaçados. Não é a toa que o prêmio Nobel de Economia do ano de 2018 foi para William Nordhaus e Paul Romer, cujos estudos evidenciaram os impactos econômicos das mudanças climáticas e apontaram para a necessidade do crescimento sustentável. Ir à direção contrária disso tudo será condenar o país ao suicídio.
Quem preserva tem futuro e é isso que queremos: um país, um mundo em que se tenha qualidade de vida e que una o crescimento econômico com a proteção das nossas riquezas naturais.
Juliana Mendes Vasconcelos / Bióloga e Colaboradora da Promutuca / www.promutuca.com.br • adm.promutuca@gmail.com
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