O papel de cada um

Há muito tempo dividimos com os animais o ambiente urbano. Corujas, morcegos, urubus e gambás (sariguês ou saruês) são alguns dos que se adaptaram à vida nas cidades. Esses vizinhos fascinantes, no entanto, nem sempre despertam nas pessoas o melhor dos sentimentos. Ao contrário, eles provocam em muitos o medo e a repulsa, resultado da desinformação e da ignorância humana, tornando-se vítimas da violência e da discriminação. Somam-se a isso as crendices e superstições, fatores que alimentam o imaginário popular, colaborando para aumentar este preconceito.

O som de uma coruja piando à noite ou sua simples presença, para muitos de nós pode representar um sinal de azar, mau agouro. Isso não passa de mito. Corujas são aves fantásticas e desempenham um papel crucial no controle e equilíbrio das populações de roedores, seu principal alimento, desta forma reduzindo as chances de transmissão de doenças para os seres humanos.
Únicos mamíferos voadores, os morcegos são vizinhos próximos, aparecendo à noite para se alimentar. Embora dotados de adaptações anatômicas notáveis, esses animais quase sempre são rejeitados e até hostilizados pelas pessoas. Sua aparência, a associação com a imagem do vampiro e a fama de potencial transmissor de doenças, como a raiva, financiam sua má reputação.

Entretanto, uma minoria das espécies de morcegos é hematófaga, alimentando-se do sangue de outros animais, não de sangue humano. Em contrapartida, os consumidores de insetos (insetívoros) constituem a maior parte das espécies existentes e são fundamentais para controlar populações de pragas que afetam a agricultura. Assim como as abelhas, os morcegos também são polinizadores eficientes, ajudando na reprodução das plantas, enquanto transitam entre uma flor e outra à procura de néctar. A lista de benefícios trazidos por esses animais não para por aí. Aqueles que comem frutos, os frugívoros, ainda auxiliam na dispersão de sementes durante suas viagens entre as árvores em busca de alimento.

Entre os habitantes das cidades, os urubus talvez sejam os mais injustiçados, sendo objeto de grande preconceito. Aves apontadas como sujas, nojentas e perigosas, sua presença não agrada a maioria das pessoas. Ironicamente, esses mesmos animais “sujos” prestam um primoroso e essencial serviço à natureza, como saneadores. Ao consumirem carcaças de animais mortos, os urubus eliminam potenciais focos de contaminação ao meio ambiente e evitam a proliferação de microorganismos causadores de doenças.

Outra figura comum nos centros urbanos e que, infelizmente, também sofre com a intolerância humana é o gambá (ou sariguê). São frequentes os relatos de mortes e agressões contra esse marsupial. Os sariguês, entretanto, são eficientes dispersores de sementes, favorecendo a disseminação de plantas. Além disso, ajudam no combate às pragas urbanas, pois se alimentam de baratas, escorpiões, aranhas, carrapatos e outras espécies prejudiciais ao homem.

Este texto trouxe apenas alguns exemplos de animais vítimas do preconceito e da ignorância por parte das pessoas. Mas há muitos outros na mesma situação. E todos eles cumprem uma missão na natureza. É preciso conhecer e reconhecer a importância de cada um. E, mais uma vez, a saída é a educação, a informação, o conhecimento. Só assim poderemos desmistificar e aceitar todas as espécies como elas são.

Raquel Schettino Werneck / Bióloga e colaboradoras da Promutuca / www.promutuca.com.br • adm.promutuca@gmail.com

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