Até quando?

Temos acompanhado recentemente e com estranha frequência relatos e imagens de grandes mamíferos circulando na região dos condomínios de Nova Lima. Em especial onças pardas.

O Vale do Mutuca, sabidamente, abriga um “Corredor Ecológico de Fauna”, ou seja, é uma porção de ecossistema que serve de ligação entre fragmentos florestais ou unidades de conservação separados pela atividade humana. No nosso caso, o Vale do Mutuca possibilita a comunicação entre a fauna da bacia do Rio das Velhas e a bacia do Rio Paraopeba, separadas pela BR-040 duplicada. As áreas de mata atlântica e de cerrado do Vale do Mutuca possibilitam a habitação e deslocamento de vários animais, inclusive as onças que dependem de grande território e, consequentemente, a troca genética entre espécies e a dispersão de sementes.

O município de Nova Lima, sabedor da relevância do Vale do Mutuca como um corredor ecológico de fauna, inclui em seu Plano Diretor no artigo 35, § 1º, inciso I, B a Reserva do Mutuca entre suas áreas de proteção e preservação integral.

Mas é com estranheza que presenciamos a concessão de licenças para desmatar e construir em áreas de Mata Atlântica protegidas por lei e que estão sob litígio, com processo judicial tramitando na Justiça Federal. Como é o caso do empreendimento originalmente chamado – “Villa Castela II”.

Temos visto áreas loteadas em meio a densa mata, na proximidade de nascentes e cursos d’água, ao arrepio da lei, serem totalmente desmatadas e cremos que essa é a razão da aparição indesejada de onças pardas, desalojadas de seu habitat, em áreas urbanizadas. Além da perturbação do equilíbrio de toda fauna e flora local.

Eu me confesso impotente e frustrada, quando aqueles que têm o poder e o dever de decisão se omitem diante da sua responsabilidade com a sociedade e com a vida natural. Desculpem meu desabafo, mas olho para aquelas matas e consigo ouvir o pedido de socorro das diferentes formas de vida que ali habitam. Vidas inocentes e sensíveis.

Por que admiramos e queremos possuir para destruir? Por qual motivo o poder público não protege o último corredor ecológico da região metropolitana de Belo Horizonte? Qual o legado que deixaremos para as futuras gerações? Com a morte de cada animal inocente, morre a nossa humanidade nos sentidos de compaixão, solidariedade e generosidade.

Ledo engano achar que sobreviveremos à extinção deles e de seu habitat! Até quando? O que mais precisa acontecer?

Maria Cristina Brugnara Veloso / Membro do Conselho Deliberativo da Promutuca / www.promutuca.com.br • adm.promutuca@gmail.com

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