Cadeia de suprimentos requer atenção para além da tecnologia

Para o professor da Fundação Dom Cabral (FDC) e sócio da Goose – Consultoria & Treinamentos, Haroldo Márcio, empresas também devem ter cuidados especiais com boas práticas de ESG.

Envolver vários negócios com o objetivo de realizar as atividades de um fluxo produtivo, incluindo o desenho de um produto ou serviço, a obtenção da matéria-prima necessária e a produção da mercadoria, bem como sua distribuição, venda e entrega ao consumidor final. Esse é o conceito de cadeia de suprimentos, que normalmente é formada por uma rede de empresas individuais responsáveis por determinada etapa do processo, como fornecedores de matéria-prima e fabricantes, além de distribuidores, revendedores e varejistas. Na busca por um trabalho mais eficiente e sustentável, o uso da tecnologia é um importante aliado.

De acordo com o professor da Fundação Dom Cabral (FDC) e sócio da Goose – Consultoria & Treinamentos, Haroldo Márcio, a inteligência artificial, 5G e internet das coisas são exemplos de soluções tecnológicas que contribuem para poupar tempo, dinheiro e recursos. “A análise de Big Data (grande quantidade de dados) e o armazenamento desses dados em nuvem se mostram fundamentais para um melhor controle e um atendimento mais ágil. Isso sem falar nas ferramentas de inteligência analítica, que são capazes de passar informações sobre a situação da cadeia em matéria de resíduos, emissões e diversidade”, explica o especialista.

Importância das boas práticas

Não é de hoje que a preocupação com o futuro e a sustentabilidade do negócio passa pelo tripé ESG, constituído pelos pilares Ambiente (“environment”, em inglês), Social e Governança, nos quais cada empresa deve se basear para medir seus resultados. O número de quem investe em cadeia de suprimentos integrada e dados para soluções mais sustentáveis tem aumentado. Nesse sentido, uma questão precisa ser colocada: quais práticas consideradas adequadas as empresas têm adotado para validar sua cadeia de suprimentos?

Na visão de Haroldo, são vários os pontos que devem ser analisados. “Os empresários precisam ter ciência da origem da matéria-prima, do uso de recursos naturais e também das condições de trabalho a que os colaboradores estão submetidos ao longo de todo o processo”, elucida.

Não à toa tem sido cada vez mais comum o surgimento de campanhas nas redes sociais que defendem boicote a negócios que desrespeitem as práticas ESG. Em março deste ano, estourou o caso das vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton no Rio Grande do Sul, onde trabalhadores eram mantidos em situação análoga à escravidão, com carga de trabalho de 15 horas e práticas de tortura.

A Braskem é outro exemplo. Em abril de 2019, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) divulgou relatório que apontou a extração de sal-gema feita pela empresa como a principal causa para o surgimento de rachaduras, fissuras e tremores em bairros de Maceió, gerando impactos diretos para cerca de 60 mil moradores.

Em julho, a Justiça Federal homologou acordo da petroquímica com a capital alagoana. Hoje a Braskem afirma ter o ESG como uma estratégia central para realizar seu planejamento de longo prazo. A empresa busca reduzir suas emissões de carbono em 15% até 2030. O trabalho visa aumentar a capacidade de produção de polietileno verde, produzido a partir de cana de açúcar, alcançando a marca de 1 milhão de toneladas.

“Muito mais do que um mero discurso retórico, os compromissos com as ações sociais, ambientais e de governança precisam ser práticos. A falta de alinhamento entre o que se prega e o que se faz pode gerar processos irreversíveis para as marcas”, avalia o professor.

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