Começar 2023 com as contas em dia é desafio para muitas empresas

O professor especialista da Fundação Dom Cabral e sócio da Goose – Consultoria & Treinamentos, Haroldo Márcio aponta três fatores que devem ser observados em meio ao atual cenário de incertezas e que devem ter impacto significativo no caixa das empresas para 2023.

Passados pouco mais de 15 dias das mais disputadas eleições presidenciais desde a redemocratização do Brasil e a praticamente um mês da posse do governo eleito, o cenário econômico que se apresenta para o futuro do país ainda é de incertezas. Após a primeira semana de novembro com resultados positivos, como o bom desempenho da bolsa de valores e a queda do dólar, a segunda apontou uma mudança: o Ibovespa acumulou queda e, na contramão, a moeda estrangeira fechou em alta. A cada aceno feito pelo presidente Lula e sua equipe de transição, o mercado financeiro reage de uma forma diferente. A tendência é continuar assim, mesmo depois de 1º de janeiro de 2023.

Somam-se a isso fatores externos que também influenciam na economia local, dentre eles, a crise do custo de vida em muitos países, a invasão russa na Ucrânia e a pandemia de Covid-19, que também têm peso sobre as expectativas para o próximo ano. Ainda no cenário global, a atividade econômica mundial vive um momento de desaceleração ampla e mais acentuada do que o esperado, com uma inflação bem superior à observada em muitas décadas.

Aqui no Brasil, que recentemente experimentou três meses de deflação, os preços voltaram a subir, atingindo 0,59% em outubro e 6,47% no acumulado de 2022, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Diante de tantas dúvidas, como as empresas podem se programar para o próximo ano, sobretudo as pequenas e médias? Na opinião do professor especialista da Fundação Dom Cabral e sócio da Goose – Consultoria & Treinamentos, Haroldo Márcio, alguns fatores devem ter impacto significativo no caixa das empresas para 2023 e merecem ser observados com atenção.

Qualidade do crédito

No final do ano, muitas empresas costumam aumentar o crediário, passando a vender mais a prazo. “Dependendo do segmento, se o empresário não faz uma boa análise de crédito, isso vira uma carteira de inadimplentes, já que ele fica sem receber e precisa pagar fornecedores e salários, sem falar em outros compromissos”, explica Haroldo Márcio. “Quem vende agora tem que ser ainda mais seletivo pra não cair nessa inadimplência, perder seu produto ou serviço e não receber por ele. Em uma situação dessa, fatalmente, haverá dificuldade no caixa”, complementa.

A inadimplência e o endividamento geral no Brasil, inclusive, têm chamado a atenção. Embora a mais recente Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feita mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e publicada no último dia 7, tenha apontado queda de 0,1 ponto percentual na proporção de endividados em outubro, após três altas consecutivas, 79,2% das famílias pesquisadas relataram ter dívidas de várias naturezas a vencer. A proporção de famílias brasileiras com contas atrasadas passou de 30% para 30,3%, quarto mês seguido de alta.

No caso das empresas, 6,3 milhões estavam com o nome no vermelho em setembro, conforme estudo feito pela Serasa Experian. O resultado é 5% a mais na comparação com o ano anterior. Do total, 5,6 milhões são micro ou de pequeno porte, o que equivale a 88% do total. São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná são os estados com o maior número de empresas nessa situação.

Prazos de recebimento e pagamento

Além da qualidade do crédito, a segunda questão que deve ser observada é o prazo de recebimento de vendas. Quando se há uma dificuldade de mercado, uma recessão ou então a empresa quer crescer e aumentar suas vendas, geralmente há duas estratégias: ou se dá desconto para o cliente pagar menos e comprar o produto ou se dá prazo – que é a prática mais comum –, parcelando o valor em várias vezes e aumentado o volume de vendas.

A questão aí é que a empresa recebe no prazo que vendeu, que é muito longo, mas precisa pagar as contas, sem ainda ter recebido”, analisa. “Outra opção é antecipar esse valor a receber, só que, neste caso, é cobrada despesa financeira. Às vezes, o produto não tem margem para suportar essa despesa”, ressalta o especialista.

O terceiro ponto que precisa ser levado em consideração neste momento é o prazo de pagamento, que é o oposto do prazo de serviço. Quando a empresa começa a vender em escala maior, é necessário comprar muito insumo e ter mais estoque. No entanto, se ela não dispõe de tanto crédito assim com o fornecedor, não vai conseguir bons prazos, passando a comprar mais à vista.
“O grande problema é que a empresa vende em um prazo muito longo, muitas vezes não recebe, precisa comprar muito e fica sem dinheiro. A combinação desses três fatores compromete o caixa de uma empresa, principalmente no momento em que ela começa a vender muito”, avalia o professor da Fundação Dom Cabral. Essa é a chamada Dor do Crescimento. Portanto, o volume de vendas não é, por si só, suficiente para a empresa conseguir fechar as contas. A qualidade do crédito, o tempo de recebimento de vendas e o prazo de compras tanto dos insumos quanto dos serviços são fundamentais e têm relação direta com os resultados.

Projeções para o Brasil

No início de outubro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegou a ampliar a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022 em 0,9%, passando de 1,7%, de acordo com a previsão anterior feita no mês de julho, para 2,8%. Segundo a nova estimativa, a tendência é que a economia brasileira tenha um desempenho melhor do que o de outros países da América do Sul, como Paraguai (0,2%), Chile (2,0%) e Peru (2,7%), mas abaixo de Argentina (4,0%), Venezuela (6,0%) e Colômbia (7,6%). A nova projeção também supera à de países mais desenvolvidos, como Alemanha (1,5%), Estados Unidos (1,6%), Japão (1,7%) e França (2,5%), mas é inferior ao desempenho esperado da Itália (3,2%), do Reino Unido (3,6%) e da Espanha (4,3%).
Nesse momento de instabilidade e projeções consideradas tímidas para o Brasil, contar com uma consultoria especializada, capaz de oferecer soluções personalizadas e auxiliar o negócio a colocar as contas em dia, é um diferencial para entrar 2023 com o pé direito.

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