Meu álibi de consciência

Cada vez mais pessoas praticam hábitos icônicos de consciência ambiental: uns reciclam seu lixo, outros jamais lavam a calçada com água, há quem aderiu ao transporte por bicicleta ou tenha instalado painéis solares em casa. Eu sempre carrego comigo uma sacola dobrável para compras. Pegar saco plástico me dói na alma mais do que Benzetacil (um antibiótico injetável) dói no músculo. E olha que tenho pavor de injeção. Tento sempre me redimir reutilizando os sacos que, muito a contragosto, levo para casa. Sei que há outros males talvez mais nocivos, ou talvez mais urgentes, e também entendo que não haja apenas uma ação importante, mas sim todas. Porém, meu inconsciente adotou o saco plástico como Judas. Nem aqueles saquinhos para frutas gosto de pegar. Aliás, acho esses os piores, pois têm pouca serventia após o uso.

Nos dias em que esqueço de levar minha sacola de compras, ou preciso comprar algo de supetão, acabo virando uma malabarista no meio das prateleiras, equilibrando em poucas mãos mexericas, ovos, torradas. Solícitos atendentes logo correm em meu socorro, oferecendo sacos para me salvar de um derramamento em massa. Eu reluto, mas por vezes sou obrigada a ceder, não sem um ar cabisbaixo de derrota.

Quem vê de fora facilmente apontaria as incoerências do meu ser: as embalagens de alguns produtos que consumo têm muito mais plástico do que as sacolas que abomino. No inverno, tomo banhos aquecidos a gás bem mais longos do que deveria. Tento me apaziguar ou diminuir minha culpa entendendo que não sou capaz de salvar o mundo sozinha. Mas será que estou fazendo o suficiente, ou meu melhor? Não sei…às vezes tenho a sensação de me deixar levar, conscientemente, em uma correnteza cujo destino é um abismo. Fecho os olhos para não ver o fim ali na frente. Ou me distraio com a vista no caminho.

Não me sinto forte ou motivada o suficiente para abrir mão de certos confortos. Talvez por isso mesmo tenha elegido um alvo principal que me seja possível: as tais sacolas plásticas. Quando volto do supermercado sem nenhuma, me convenço de que estou fazendo minha parte para salvar o planeta. Faço as pazes com minha consciência.

Mas as tartarugas continuam morrendo no mar entupidas com nanos plásticos.
Até quando?

Gisele Kimura / Membro do conselho deliberativo da Promutuca./ www.promutuca.com.br • adm.promutuca@gmail.com

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